8 de março é sempre um convite para refletir e comemorar a luta constante das mulheres pela igualdade, o reconhecimento de seus direitos e a participação social. Quando se trata do campo da cibersegurança, o papel da mulher foi e é tanto preponderante quanto decisivo. Na verdade, como revisamos há exatamente um ano, a tecnologia não seria a mesma sem as conquistas, idéias e propostas de algumas mulheres pioneiras na ciência da computação.
Mas isto não está de acordo com a posição atual das mulheres no setor. Em 2013, por exemplo, sua representação era de apenas 11%, um número que aumentou para 25%, de acordo com um estudo do (ISC)2 , mas ainda é baixo. Alinhado com isto, a UNESCO afirma que as mulheres representam 18% dos graduados em carreiras de informática e tecnologia na América Latina e no Caribe.
Outro fato preocupante, fornecido de acordo com a Brasscom, Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação, apenas 33% dos cargos de diretor e gerente são ocupados por mulheres.
Também acentuou a desigualdade que existe no acesso à tecnologia nos países em desenvolvimento. De acordo com a União Internacional de Telecomunicações, as mulheres e meninas nos países menos desenvolvidos têm 31% menos chances que os homens de usar a Internet.
Porém, a participação das mulheres nesta área de atuação vem crescendo significativamente. Segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), entre 2017 e 2022, a presença feminina aumentou cerca de 60%.
Mas este não é o único problema que existe atualmente no que diz respeito à tecnologia. Há um, em particular, que vamos analisar a seguir, que é a violência digital, que claramente vai além do mundo virtual e afeta muitas mulheres e meninas.
É verdade que as diversas formas de violência que ocorrem nas redes sociais, aplicativos de mensagens, aplicativos de encontros e outros cenários digitais afetam a todos, mas os números mostram que as mulheres são as mais afetadas, e em idades cada vez mais jovens.
De acordo com a Organização dos Estados Americanos, 73% das mulheres sofreram alguma forma de violência online baseada no gênero e 61% dos agressores eram homens. Além disso, uma em cada dez mulheres experimentou alguma forma de violência online a partir dos 15 anos de idade.
E embora muitos casos de violência digital sejam entre pessoas que se encontraram no mundo virtual através de um aplicativo de encontros ou redes sociais, muitas vezes essas situações começam no mundo físico. O fato de que 77% das vítimas de violência digital conhecem pelo menos metade dos agressores na vida real confirma isto.
O fator agravante é que, ao contrário de 20 anos atrás, a tecnologia hoje permite aos agressores estender e/ou intensificar comportamentos abusivos, possessivos e controladores que não eram possíveis antes da era digital atual.
De acordo com a Anistia Internacional, 88% das mulheres sofrem abusos e cyberbullying após a publicação de conteúdo feminista. Como podemos ver, a violência digital pode vir em diferentes formas, as mais comuns são o cyberbullying, a sextorsão ou a chantagem e o discurso do ódio, e afeta tanto as mulheres quanto as meninas.
Por causa do acima exposto, é muito importante que pais e cuidadores falem com crianças e adolescentes sobre os riscos que existem e como evitá-los. Por outro lado, também é importante ser claro sobre como agir e que recomendações eles devem ter para aqueles que sofrem de alguma forma de violência digital baseada no gênero.
“A violência online subverteu a premissa original positiva da liberdade na internet e, com demasiada frequência, a tornou um espaço arrepiante que permite crueldade anônima e facilita ataques contra mulheres e meninas”, diz Phumzile Mlambo-Ngcuka, da ONU Mulher, agência da organização dedicada à igualdade de gêneros e maior poder feminino.
De acordo com a ONU, 1 em 5 mulheres que usam a internet vivem em países onde abusos relacionados ao gênero não costumam ser punidos, 74% dos países não tomam as medidas apropriadas através de tribunais e forças policiais e 65% das mulheres que são vítimas preferem não denunciar ciberviolência por medo de represálias sociais.
E falando sobre um recorte de faixa etária, a ONU também afirma que de 18 a 24 é a faixa etária com maior risco de sofrer violência de gênero relacionada à tecnologia e 56% dizem já ter sofrido algum tipo de assédio, 26% já foram vítimas de perseguição e 5% dizem que algo aconteceu online que as levou a correr “perigo físico”.
Embora as mudanças culturais não aconteçam da noite para o dia, esperamos ter contribuído para quebrar os atuais ciclos de violência digital. Ao mesmo tempo, os dados e análises compartilhados mostram que ainda hoje há necessidade de abordar a desigualdade de gênero em todas as áreas a fim de promover a inclusão e a igualdade de oportunidades para todas as pessoas.
Da ESET, reafirmamos a importância de continuar a trabalhar na eliminação das barreiras de gênero e na promoção da igualdade de oportunidades, especialmente no campo da tecnologia e da cibersegurança na América Latina.